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FILTRO DE ÁGUA CINZA

O Filtro biológico é um sistema de filtragem de águas cinzas, ou seja, águas provenientes dos ralos das pias, chuveiros e tanques de lavar roupas. Este sistema é composto por quatro caixas filtradoras e um círculo de bananeiras. A 1ª caixa consiste em uma caixa de gordura comum; a 2ª uma caixa com brita; a 3ª uma caixa com areia e a 4ª uma caixa com carvão. Dessa forma, a água que sai das casas retorna ao ambiente com mais de 70% de pureza, evitando excesso de matéria orgânica, sabões, gorduras e produtos químicos nos córregos das comunidades. O Sistema filtra o material mais grosso e a gordura e propicia o desenvolvimento de bactérias que realizam a decomposição do material particulado.

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Pesca Artesanal

PROBLEMA SOLUCIONADO

As comunidades tradicionais enfrentam sérios problemas devido à falta de saneamento básico. A ausência de tratamento de esgoto faz com que as águas cinzas sejam despejadas diretamente nos rios ou no solo, muitas vezes passando apenas por uma caixa de gordura, que é insuficiente para remover os poluentes. Como resultado, os rios estão se tornando cada vez mais poluídos, e o isolamento dessas comunidades dificulta o acesso aos serviços públicos de saneamento.
O uso de filtros para águas cinzas surge como uma solução viável para mitigar esse problema ambiental, que impacta diretamente a saúde dos moradores e visitantes. Esses filtros são uma alternativa barata e fácil de implementar, proporcionando uma melhoria significativa na qualidade da água e, consequentemente, na qualidade de vida da comunidade.

SOLUÇÃO ADOTADA

O responsável pela difusão da tecnologia, Ticote (Francisco Xavier Sobrinho), realizou o primeiro filtro em sua casa durante uma oficina em 2011, com o apoio do grupo "Raízes e Frutos" - Projeto de Extensão da UFRJ. A experiência foi tão bem-sucedida que decidiram mobilizar outras pessoas para implantar o filtro em outras casas. As famílias começaram a conhecer o funcionamento do filtro e perceberam que ele é uma alternativa viável para a região.
Para divulgar a tecnologia e seus benefícios, são realizadas oficinas durante a implantação dos filtros, com a presença de jovens e adultos de diversos locais, incluindo comunidades próximas e lugares distantes, como São Miguel, no Paraná. Essas oficinas são encontros que geralmente duram um fim de semana, e o grupo interessado em conhecer a nova tecnologia se hospeda na casa ou próximo ao local onde o filtro será instalado.
O Filtro Biológico consiste em quatro caixas conectadas por canos de PVC e um círculo de bananeiras ao final. Cada caixa possui uma função distinta de filtragem: a Caixa 1 é a caixa de gordura tradicional que promove a separação da gordura; a Caixa 2 é preenchida com brita, retendo material particulado; a Caixa 3 é preenchida com areia grossa, decompondo compostos químicos e orgânicos; e a Caixa 4 é preenchida com carvão, realizando a filtragem final. O círculo de bananeiras promove a remoção e decomposição dos compostos restantes, através de um processo realizado por fungos e bactérias presentes na cava das bananeiras. As bananeiras também têm a função de evapotranspirar a água contida no círculo, sendo muito eficientes nesse processo.
A construção do filtro segue várias etapas. Primeiramente, são construídas as placas de plastocimento, utilizando cimento, material plástico dos sacos de cebola e areia média na proporção de 2 sacos de areia para 1 saco de cimento. Utilizam-se moldes de madeira (0,5 x 0,5 m) sobre uma lona, onde é colocada uma camada de cimento, depois a tela de plástico e, por fim, mais uma camada de cimento. Pedaços de arame são colocados nos vértices das placas para facilitar a montagem das caixas. São feitas 24 placas, sendo 8 com buracos de 40 mm para os canos de PVC.
Após as placas secarem, elas são emendadas com arames e massa de areia e cimento (proporção de 1 para 1), formando um cubo ainda sem a tampa final, com furos em dois lados opostos na parte superior da caixa. Na etapa de instalação das caixas e do círculo de bananeiras, são feitas correções no terreno para garantir um declive que favoreça o escoamento da água pelas 4 caixas até a parte final do sistema de filtragem. A cava do círculo de bananeiras é feita com 40 cm de profundidade por 1 m de raio, preenchida com restos de galhos, folhas, terra e touceiras de banana.
A montagem e o fechamento do filtro seguem a sequência de filtragem: Caixa 1 > Caixa 2 > Caixa 3 > Caixa 4 > Círculo de Bananeiras. A Caixa 1 é preenchida com gordura, a Caixa 2 com brita, a Caixa 3 com areia grossa e a Caixa 4 com carvão. Para fechar as caixas com as placas-tampa, utiliza-se uma massa leve (areia + barro + cimento na proporção de 1:1:1/3), facilitando a limpeza periódica do sistema. Após a secagem da massa, o filtro está pronto para funcionar.
O monitoramento do sistema é essencial, observando seu funcionamento e criando uma relação de cuidado com o filtro implantado. As limpezas periódicas geralmente ocorrem anualmente, dependendo do volume de água utilizado nas casas.
A difusão da tecnologia do Filtro Biológico, iniciada por Ticote e apoiada pelo grupo "Raízes e Frutos", tem se mostrado uma solução eficaz e sustentável para o tratamento de águas cinzas em comunidades tradicionais. As oficinas de implantação e a participação ativa das famílias têm sido fundamentais para a disseminação dessa tecnologia, que melhora a qualidade da água e a saúde pública, além de promover a sustentabilidade ambiental.

RESULTADO ALCANÇADO

Até setembro de 2024, foram instalados pela Fiocruz e pelo FCT um total de 17 filtros de águas cinzas com círculos de bananeira na Bocaina, todos funcionando perfeitamente. Por se tratar de uma questão ambiental relacionada à água, um bem comum da comunidade, inúmeras pessoas são beneficiadas direta e indiretamente pela implantação dessa tecnologia. A participação dos grupos sociais neste processo é de suma importância para a construção de um processo educativo democrático, estimulando a formação crítica dos cidadãos e voltada para a garantia de seus direitos constitucionais a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Para que o filtro alcance os padrões das normas estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a complementação com o círculo de bananeiras é essencial. Este componente não apenas melhora a eficiência do sistema de filtragem, mas também contribui para a sustentabilidade do processo, utilizando plantas que ajudam na evapotranspiração e na decomposição de compostos orgânicos.
A integração da comunidade no processo de instalação e manutenção dos filtros promove um senso de responsabilidade coletiva e conscientização ambiental, fortalecendo a coesão social e a capacidade de autogestão dos recursos naturais. Dessa forma, a tecnologia não apenas resolve problemas imediatos de saneamento, mas também contribui para a educação ambiental e o empoderamento das comunidades envolvidas.

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